“No Centro do Jogo” – parte VIII
Homens Brancos Não Sabem Blogar
Nascido na Nigéria, Akeem era goleiro de futebol. Foi apenas com quinze anos que ele foi convidado para jogar um campeonatozinho de basquete da cidade e teve o primeiro contato com o esporte. A história conta que, nessa época, um técnico na Nigéria pediu para que ele tentasse enterrar a bola. Acontece que Olajuwon não sabia nem como, nem o que era uma enterrada. O treinador então pegou uma cadeira para fazer uma demonstração: subiu na cadeira, enterrou a bola, e na sequência pediu para que Olajuwon tentasse. Ele obedeceu: pegou a bola de basquete, foi pra perto da cesta, subiu na cadeira e de lá a enterrou.
Em 1980, Akeem imigrou para os Estados Unidos, onde passou a jogar pela Universidade de Houston. A princípio, Olajuwon não conseguiu muito tempo de quadra. Após perguntar aos técnicos o que ele devia fazer para conseguir jogar mais, a resposta foi simples: “Você tem que melhorar seu jogo.” Foi então que a administração do time arranjou um jeito do atleta começar a treinar durante o verão com a então estrela do Houston Rockets, Moses Malone.
Na época, Malone era o melhor pivô da liga e ele transformou a carreira de Akeem. Jogando ao lado de atletas como Clyde Drexler, Olajuwon alcançou duas finais da NCAA seguidas e mesmo perdendo as duas, recebeu o troféu de melhor jogador do torneio em 1983. Desde que ele ganhou o prêmio, aliás, nenhum outro atleta de um time que perdeu recebeu essa homenagem.
É incrível imaginar que, cinco anos antes, o mesmo cara tinha pegado uma bola de basquete pela primeira vez.
Em 1984, Akeem Olajuwon foi draftado na primeira posição do Draft pelo Houston Rockets. Ele foi draftado na frente de jogadores como Charles Barkley, John Stockton e de um outro cara menos conhecido chamado Michael Jordan. No Rockets, Olajuwon formou, ao lado de Ralph Sampson (2.24m), as torres gêmeas originais. Logo no seu primeiro ano, ele teve médias de 20pts/12reb/2.7blk.
Na sua segunda temporada, para surpresa geral, ele chegou às finais da NBA depois de vencer com facilidade o Lakers de Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar por 4 a 1. Nas finais, perdeu em seis jogos para um dos melhores times de todos os tempos, o Boston Celtics de 1986. Já naquele ano, contudo, Olajuwon foi líder de pontos e rebotes dos playoffs.
Dois anos depois, as torre gêmeas se separaram com a saída de Sampson para o Golden State Warriors. Com a responsabilidade do time sobre suas costas, Olajuwon teve uma temporada memorável, fechando o ano com médias de 25pts/13.5reb/3.4blk e, nos playoffs, com incríveis 37.5ppg e 16.8rpg.
Embora os números do agora ‘H’akeem só melhorassem (na temporada seguinte, ele teve médias de 24pts, 14reb e 4.6blk!), o Houston não foi bem até a temporada de 1993-94. Aqui, Olajuwon atingiu um nível inédito na história: ele se tornou o único jogador a ganhar MVP, MVP das Finais e Melhor Jogador de Defesa no mesmo ano. Foi a partir deste momento que, de um jogador respeitável, Hakeem tornou-se “The Dream”. Nessa época, Olajuwon fez atletas como Patrick Ewing e Dikembe Mutombo passarem vergonha. O encontro mais emblemático, no entanto, foi contra David Robinson em 1995.
Veja, Olajuwon tinha acabado de vencer tudo em 1994. Em 1995, ele continuava muito bem, mas quem ganhou o MVP foi David Robinson. Apesar da temporada de Robinson (28pts/11reb/3ast/3blk/3stl) ter sido tão boa quanto a do Olajuwon (28pts/11reb/3.5ast/3.5blk/2stl), muita gente diz que o nigeriano ficou puto de não ter ganhado aquele troféu. Agora, era uma questão de orgulho provar que ele, Hakeem, era o melhor jogador, e não havia situação mais propícia para fazê-lo do que nas finais de conferência de 1995, quando Houston e San Antonio se enfrentaram num clássico texano.
Foi aqui, amigos, que o almirante, o MVP da temporada foi simplesmente dominado, humilhado, escorraçado. As fintas do nigeriano, a batida de bola, o giro, era como se tudo fosse mesmo um sonho: um rapaz de 2.13m com toda a classe de um armador, humilhando o MVP da temporada. Hakeem terminou aquela série com médias de 35pts/12reb/4blk/5ast por jogo, uma das maiores performances de playoffs de um pivô na história, se não a maior, e venceu a série por 4 a 2.
Só pra deixar claro quem é que mandava ali, nas finais do mesmo ano, o Houston encontrou com o Orlando Magic e Olajuwon pontuou mais que o jovem Shaquille O’Neal em todas as partidas do confronto, que, infelizmente, foram só quatro porque o Rockets varreu o Magic.
Hakeem é um dos quatro jogadores da história a marcar um quadruplo-duplo num jogo com 18 pontos, 16 rebotes, 10 assistências e 10 tocos. Ele foi duas vezes campeão da NBA. Nas duas, MVP das finais. Ele é um dos jogadores mais clutch da história da liga: todas as suas médias, em absolutamente todos os comparativos, são melhores nos playoffs do que na temporada regular. Doze vezes escolhido para os melhores time da NBA e nove vezes para os melhores times defensivos, ele encerrou sua carreira estando entre os dez melhores da história da NBA em tocos, pontos, rebotes e roubadas de bola. Este é o eterno camisa 34 do Houston Rockets: Hakeem Abdul “The Dream” Olajuwon.