Kobe se “despede” da torcida de Nova York
Gustavo Battaglia
''A despedida veio no último domingo, dia 8, com sorrisos, abraços e uma salva de palmas – uma lenda da NBA e uma arena lendária dividindo um último momento juntos. Kobe levantou sua mão esquerda, saudou os fans, e então desapareceu no túnel do Madison Square Garden.
Mesmo que Kobe, com 37 anos e 20 temporadas, ainda não esteja pronto para admitir, essa foi uma despedida. Um último episódio num dos romances mais únicos do basquete.
Kobe nunca jogou para Nova York, mas Nova York adora-o há muito tempo – vibra por ele, acolhe-o como a um filho predileto, mesmo na época que ele fazia picadinhos do time Nova-Iorquino. Os fans do Knicks eram capazes de vaiar o Lakers e torcer pelo Kobe ao mesmo tempo. E Bryant sempre retribuiu o amor, proclamando sua adoração pelo lugar que ele também chamava de 'A Mecca do Basquete.'
Foi assim de novo no domingo, com o Lakers fazendo sua única visita da temporada e o Knicks vencendo por 99 a 95. Para Kobe, haverá outras partidas pela frente, mais despedidas, mais momentos de sentimento e admiração. Mas nenhum como esse.
Para entender a intensidade da despedida, você precisa entender o primeiro encontro.
Kobe Bryant sabe o momento exato em que seu caso amoroso com Nova York começou. Quando ele entendeu que seu relacionamento com o Garden seria diferente de qualquer outro.
'2003,' ele diz. 'Foi ali.'
Mais especificamente no dia 6 de fevereiro de 2003. Alguns comentaristas citam o jogo de 61 pontos de Bryant em 2009 como o jogo que marcou o seu relacionamento com o Garden. Ele foi tratado como um herói naquela noite, deixando o lugar ovacionado, mas não. Foi em 2003, na sétima temporada de Kobe. Foi naquele momento que Bryant juntou-se a Jordan como um inimigo a ser honrado com uma veneração absoluta dentro do Garden.
O vídeo da jogada é granulado, como se tivesse vindo de uma película 8mm. Claramente é de outra era, pré-Twitter, pré-Facebook. O cabelo de Bryant está intacto e sua camisa carrega o número 8.
O Lakers vencia por 50 a 41 quando Bryant analisou quem o estava defendendo, Latrell Sprewell. Eles se empurraram por um instante e, de repente, Bryant deixou Sprewell pra trás, infiltrou rente a linha de fundo e foi em direção a cesta.
Kobe saltou para o que todo mundo esperava ser uma bandeja. No último microsegundo possível, no auge da sua elevação, Bryant virou, girou o braço direito e enterrou a bola.
Os comentaristas enlouqueceram. O público explodiu. Alguns instantes depois, mostraram o replay da enterrada no telão do ginásio e o público explodiu de novo. 19mil fans gritavam. Foi amor a primeira enterrada. Naquele dia, Bryant terminou a partida com 46 pontos, deixou a quadra ovacionado e com milhares de novos admiradores.
Mais um show. Mais uma memória. Era isso o que qualquer um queria nesse último domingo no Garden. Os fans. O Lakers. Provavelmente até o Knicks. Mas não havia altas expectativas. Kobe está com 37 anos, 19 temporadas nas costas, 55mil minutos jogados, e passou por três lesões sérias nos últimos dois anos e meio. Mas todos sabíamos que ele tentaria.
Por quarto períodos, Bryant batalhou contra Carmelo Anthony, seu amigo de longa data. No começo do jogo, a maior torcida vinha quando Kobe tocava na bola. O resultado não importava. O que Bryant conseguisse produzir naquele momento os fans do Knicks acolheriam, como faziam há tanto tempo.
Houve momentos feios, com Bryant forçando bolas de três, e chutando air balls. Infiltrações são raras, e terminam em bandejas, não em enterradas. Pouco sobrou daquela antiga impulsão. Ainda assim, Kobe foi para a linha do lance-livre quase no final da partida e foi saudado com um coro familiar: ''M! V! P!''
Quando a buzina soou marcando o fim da partida, Kobe e Carmelo permitiram-se um abraço. Outros seguiram: Kobe abraçou seu antigo companheiro de time Sasha Vujacic; abraçou o rookie Kristaps Porzingis; e, por fim, abraçou e beijou sua esposa e suas filhas.
Quando não havia mais ninguém para cumprimentar, Bryant virou e começou a andar em direção ao vestiário. A platéia vibrou mais uma vez. ''KO-BEEE!!!'' gritaram alguns fans. Kobe sorriu, ergueu a mão, entrou no túnel e desapareceu.'' (Howard Beck)