“No Centro do Jogo” – parte IV
Homens Brancos Não Sabem Blogar
No começo da carreira, Wilt Chamberlain não era um cara querido. Ele não tava nem aí pro seus companheiros de equipe e muito menos aí pros treinos. É que ele amava o Harlem: o neon, as mina, James Brown. Amava tanto que acabou virando sócio de uma boate por lá chamada Small Paradise. Com uma vida dura dessas, não tinha mesmo como ir aos treinos e todos os companheiros ficavam meio putos mas – mano – we talking about practice?
Vamos aos fatos:
O então treinador do Celtics, Red Auerbach, ouviu falar de um garoto que estava destruindo no ensino médio: sendo marcado por dois, três e às vezes até quatro jogadores do time adversário, ele, mesmo assim, teve média de 32 pontos por jogo. Auerbach achou aquilo incrível e convidou B.H. Horn, jogador recém-nomeado MVP das finais da NCAA e campeão do torneio, pra jogar 1×1 com o garoto. Chamberlain ganhou de 25 a 10 e Born, depois da derrota, preferiu desistir da carreira de jogador e virou engenheiro de tratores.
Esse não foi o único cara que se aposentou por conta de Wilt. O campeão Earl Lloyd, em seu discurso de integração ao Hall da Fama, revelou que – antes do começo da temporada de 1959-60 – participou de uma partida de exibição contra Philadelphia Warriors, do rookie Chamberlain. Ao vê-lo, Lloyd imaginou que, com aquele tamanho todo, ele “não seria capaz de andar e mascar chiclete ao mesmo tempo”. Ao fim da partida, contudo, depois de ter visto Chamberlain em quadra, Earl decidiu que era hora de se aposentar.
Wilt Chamberlain entrou pra NBA e, em sua primeira temporada, foi eleito Rookie do Ano e MVP. Além disso, nesse mesmo ano, ele quebrou oito recordes da liga (média de pontos e rebotes entre eles).
Dois anos depois, na temporada de 62, outro recorde, que permanece até hoje: média de 50.4 pontos por jogo e 25.7 rebotes. Foi nesse ano que, contra os Knicks, rolou o famigerado jogo de 100 pontos. Por conta dessa temporada, Chamberlain se tornou o primeiro e único jogador da história a marcar mais de 4mil pontos numa mesma temporada (4.029). O número é tão impressionante que o único outro jogador a romper a barreira dos TRÊS mil pontos é Michael Jordan (3.041 na temporada de 86-87).
Wilt é também o único jogador da história a ter mais de 2.000 rebotes em um ano. Como se não bastasse uma, ele fez isso em duas ocasiões distintas (2.149 e 2.052). Ele também é detentor do recorde de rebotes numa mesma partida, três a mais que Russell: 54 rebotes em um jogo. Foi aí que a NBA decidiu que não tinha jeito: a largura do garrafão, que já havia sido alterada por George Mikan, teve que passar por uma nova reforma. O garrafão passou então de 3.6m (12 pés) para 4.9m (16 pés) de largura.
Na temporada de 65, Chamberlain teve média de 48.7 minutos jogados por jogo, o que significa mais minutos do que existem no tempo regulamentar do basquetebol. Isso porque ele não saía nunca – jamais, nem pensar – de um jogo e alguns deles acabavam indo pra prorrogação.
Um cara que definitivamente não gostava de Chamberlain era Gus Johnson (ala-pivô do então Baltimore Bullets). Isso porque, certa vez, Gus Johnson foi tentar enterrar e levou um toco tão forte de Chamberlain que o seu ombro deslocou. Foi a única vez na história que um jogador teve um ombro deslocado devido a um toco. Isso sem contar a vez que Wilt quebrou o pé do jogador Johnny Kerr (ala-pivô do Syracuse Nationals) com uma enterrada. Chamberlain enterrou a bola que, na trajetória do aro pro chão, bateu no pé de Kerr com tal força que quebrou alguns ossos do pé do cara.
Os jornalistas procuravam coisa para criticar em Chamberlain e acharam: disseram que ele podia pegar rebotes e podia fazer cestas, mas que ele não conseguia passar a bola. Nessa mesma temporada, Wilt Chamberlain foi líder da liga em assistências e tornou-se o único pivô da história a conquistar tal feito.
Este é Wilt Chamberlain, a maior máquina de jogar basquete que já existiu, líder da NBA em pontos 7 vezes, em percentual de acerto 9 vezes, em minutos jogados oito, em rebotes 11 e em assistências uma. Duas vezes campeão da NBA, quatro vezes MVP, um monstro.
Quando comparado com Russell, a resposta é simples: “um incrível jogador (Chamberlain) contra um jogador capaz de fazer seu time incrível (Russell)”.