Homens Brancos Não Sabem Blogar

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Do meio da quadra pra vencer a partida? Vejo todo dia.
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No fim de semana passado, Stephen Curry acertou um chute praticamente do meio da quadra, garantiu mais um triunfo do Golden State Warriors e assombrou o público. O feito é impressionante, sem dúvida, mas parece que cestas do meio da quadra que ganham jogos deixaram de ser coisa rara no mundo do basquete.

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No mesmo fim de semana, Sergio Llull, do Real Madrid, encaçapou uma bola mais difícil, de mais longe, com menos tempo no relógio, e deu a vitória à equipe madrileña diante do Valência.

Houve ainda outra, no dia 23 de fevereiro, quando Burke Bulldogs e Estill Fighting Gators jogaram em Charleston, na Carolina do Sul. Com poucos segundos restantes no cronometro, Estill tinha a posse de bola e 2 pontos de vantagem no placar. Ao repor a bola em jogo, uma atleta de Burke imediatamente a roubou e a arremessou: nothing but net. Vitória para a equipe de Burke (46 a 45) e mais um belo roteiro para os amiguinhos de Hollywood: a partida era válida pela semifinal de conferência e essa cesta garantiu as Bulldogs na final do estadual.

Mas se você ainda não está convencido de que isso vem acontecendo com cada vez mais frequência, fique aí com outro vídeo, de um moleque que tem idade pra ser seu filho, metendo uma bola igualzinha a do Curry. As coisas mudam, amigo. As coisas mudam.


Há 50 anos, Corinthians de Wlamir Marques derrotava o Real Madrid
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Marcos Jorge

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A gente até esquece às vezes, mas nos idos dos anos 60 o Brasil era uma potência do basquete. E um dos grandes nomes dessa época era Wlamir Marques (claro que existiam outros como Amaury Passos, Rosa Branca, Mosquito, mas o chato de citar nomes é cometer injustiças, então ficamos por aqui). E já que no fim de semana o Bauru vai enfrentar o atual campeão europeu Real Madrid, acho que vale a pena lembrar quando o Corinthians, liderado por Wlamir venceu o mesmo Real, na época bicampeão europeu.

O conteúdo dese post é fruto basicamente da incrível e obscura autobiografia que Wlamir Marques escreveu no Orkut. Sério, por mais bizarro que isso possa parecer, ao longo de 2010 o ex-jogador e comentarista escreveu páginas e páginas de memórias na extinta rede social. Uma memória apagada com o fim do Orkut, mas que nós do HBNSB tratamos de salvar em um arquivinho Word de mais de cem páginas e cujos trechos publicamos de tempos em tempos em uma sessão especial.

No texto é possível notar que o jogo tem um significado especial pro Wlamir, e ele se dedica em esmiuçar cada memória nos posts. Nas suas palavras:

No dia 05 de Julho de 1965 foi realizado no ginásio do Corinthians um jogo de basquete cujo resultado perpetuou-se no tempo, sendo considerado por todos como o melhor jogo de basquete realizado no Brasil até os dias de hoje, façanha essa dificilmente repetida, isso respeitando-se obviamente as épocas. Faço questão de contar em detalhes tudo o que aconteceu naquele dia.

 

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A partida foi um amistoso realizado durante uma espécie de tour do campeão europeu pela América do Sul. É bom lembrar que nesse período o Brasil era o atual bicampeão do mundo de basquete, com tradição estabelecida na modalidade. Dessa forma, partiu do Real Madrid o interesse em fazer um amistoso com alguma equipe brasileira, convite que foi encaminhado ao Corinthians. Wlamir Marques lembra que não estava no melhor de sua saúde. No que dá a entender pelas palavras do bicampeão mundial, ele teve a sua própria versão do famoso flu game de Michael Jordan.

Ainda estava residindo no bairro de Santana próximo ao mirante que, por ser um dos locais mais altos da capital paulista, logicamente o frio também era maior.(…) Como já disse, amanheci com febre, teria que fazer alguma coisa para estancar aquela indisposição, o jeito era tomar um anti térmico para diminuir aquela sensação de torpor, quem já teve febre sabe do que falo. Como primeira providência era ir a uma farmácia mais próxima e comprar o remédio certo para aquela febre. (…) O farmacêutico me recomendou um tal de CADILAN, remédio muito conhecido na época, tendo na sua fórmula o famoso quinino, nem sei se esse remédio ainda existe. (…) A febre diminuiu, mas criou-se ali um novo impasse: aquele quinino me deu uma enorme reação alérgica e os meus olhos incharam e fecharam, muito mais o esquerdo, praticamente não conseguia enxergar nada, como poderia enxergar a cesta? Isso já era de tarde e próximo da noite, quando o jogo seria realizado no Parque São Jorge. Confesso que fiquei muito aflito, não poderia ficar de fora daquele jogo de forma nenhuma, precisava fazer alguma coisa e fizemos.

 

O médico do Corinthians, Dr. Haroldo de Campos foi chamado e aplicou um antialérgico que aliviou um pouco o inchaço nos olhos de Wlamir. Ok, essa foi a história dos bastidores, agora vamos ao relato do jogo propriamente dito, começando pela descrição de Wlamir diante do hino do Corinthians. É a emoção de um cara que já falou pra deus e o mundo que o sonho da vida dele é ter seu nome no ginásio do clube onde foi realizada a partida. Fica a dica para direção do clube, se é que eles se importam.

Como sempre acontecia, após o aquecimento, as equipes se perfilavam nas linhas do lance livre e ali eram feitas as apresentações dos jogadores. Já era de praxe nesses grandes eventos tocarem os hinos nacionais, além do hino do Corinthians, quando todos os corinthianos presentes naquele ginásio cantavam deixando aquele ambiente próprio para uma grande guerra. Raras vezes eu senti tanta emoção como naquela noite, foi algo espantoso. Só sabe o que é sentir uma emoção como essa quem já vestiu a camiseta desses clubes de grandes torcidas e tendo a oportunidade de passar por isso. É algo inimaginável a sensação de euforia a que somos acometidos, às vezes até muito mais do que quando jogamos com a seleção brasileira, porque ali envolve paixão, coração, raça e abnegação, não há como não sentir isso dentro do peito.

 

O Corinthians venceu os espanhois pelo placar de 119 a 109, numa época em que não havia linha de três pontos ou faltas coletivas, o que deixava o jogo mais dinâmico. Wlamir Marques foi o cestinha anotando 31 pontos no primeiro tempo e 20 pontos nos segundo. A queda de produção, aliás, é motivo de piada pro ex-jogador.

Não conseguimos achar vídeos da partida, embora Wlamir conte que a partida foi transmitida ao vivo pela TV Excelsior. Mesmo as fotos são raras. O que resta mesmo é a memória oral que ainda é transmitida pelos jogadores e torcedores que estiveram no ginásio naquele dia.

fichatecnicaCURIOSIDADES
– o jogo na TV Excelsior foi narrado por Peirão de Castro, comentários do Rubens Pecce e reportagens de quadra de Edson (Bolinha) Cury, que mais tarde apresentaria o famoso Clube do Bolinha, na TV Bandeirantes

– Segundo edição da Folha de São Paulo do dia seguinte, a renda de Cr$ 12.478.000 foi o recorde para uma partida de basquete no Brasil até então. Se algum economista quiser converter para valores atuais, fique à vontade

– após a partida, as duas equipes confraternizaram na Churrascaria Rubayat, que na época ficava entre a Praça da República e o Largo do Arouche, no centro de São Paulo

– os jogadores brasileiros foram presenteados com “un regalito”: relógios do Real Madrid

– entre os jogadores do Real Madrid estava Moncho Monsalve, que mais tarde seria treinador da seleção brasileira de basquete

– a ficha do jogo publicada pela Folha de São Paulo no dia seguinte aponta Wlamir Marques com 40 pontos.

O elenco das duas equipes, segundo folder distribuído no dia da partida. As imagens são do blog Viva o Basquetebol.

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