Homens Brancos Não Sabem Blogar

O adeus de Pau a Kobe.

Rafael Gonzaga

 

Pau Gasol escreveu uma carta aberta para dar seu adeus a Kobe. Este que vos fala fez uma tradução esforçada para não mexer nos sentidos das palavras, mas se quiser ler a original tá na Sports Illustrated.  Hoje o monstro faz seu último jogo oficial. Porque das quadras todos sabemos que ele não conseguirá sair.

 

''No meu primeiro dia nos Lakers, conheci o time no The Ritz, em Washington, e a 1h30 da manhã alguém bateu na minha porta. Descobri mais tarde que Kobe não é muito de dormir. Sentei na cama, se não me engano, e ele sentou na mesa do lado da TV. Ele me deu boas-vindas ao time, e então me disse que essa era ‘a hora’. O momento de vencer. Ele sentiu que eu poderia colocá-lo no topo de novo, e ele queria ter certeza que eu sabia disso. “Essa é a nossa chance”, ele disse. Isso foi forte e muito significativo.

Nós éramos a combinação perfeita.

Muitos dos triângulos ofensivos são baseados em leituras que funcionam quando um entende o outro. Eu entendia o jogo. Era minucioso. Acho que ele curtiu isso. Acho que ele viu que isso traria novos ares. Nosso relacionamento deu certo desde o início. Nós dois sabíamos que precisávamos um do outro pro sucesso.

Há tantos jogos na NBA que é fácil começar a dar uma desacelerada. Ele manteve todo mundo no limite. No treino, desafiava pessoas. Ele fazia “trash talk” com outros. Não era com todo mundo. Alguns jogadores não conseguem lidar com isso, mas eu não ligava. Era o jeito dele de te motivar e te puxar pra render mais. É fácil ficar confortável. Ele garantia que ninguém ficasse confortável.

Depois que perdemos o jogo 6 para o Celtics nas finais de 2008, nós não falamos muito disso. Era o momento de digerir o que tinha acontecido, porque ficamos aquém e deixarmos aquele fogo queimar nossos corpos e estômagos. Nós fomos pra próxima temporada com uma atitude diferente – mais fortes, mais agressivos, mais determinados. Acho que por isso ganhamos os dois títulos seguintes.

Se você joga com ele, você está olhando todo dia para uma prova viva do porquê os melhores são os melhores. Não é por acidente. É uma obsessão para alcançar e manter esse nível. A dedicação, o comprometimento, é algo único. Você não encontra em mais ninguém. Ele me inspirou a ser melhor, a ver o jogo de um jeito mais detalhista.

Nós vencemos o Magic nas finais de 2009 e todo mundo estava feliz, mas era diferente pra ele. Tinha um significado especial. Basquete era a vida dele, e vencer era sua devoção. Não estou tirando nenhuma importância da família pra ele, que significava o mundo pra ele, mas o basquete era algo muito profundo pra ele.

Quando rolou a troca do Chris Paul, que eu faria parte e foi vetada em dezembro de 2011, ele foi tipo um irmão mais velho me apoiando. Em dado momento ele disse ao Lakers, “Se vocês vão trocá-lo, faça o que vocês tem que fazer e troque-o. Se não, deixem ele em paz e deixem ele jogar”.

Nós não saíamos muito juntos fora das quadras, mas perto do final nós saímos várias vezes pra comer, e ficávamos lembrando de histórias. Quando eu estava decidindo se sairia do Lakers em 2014, ele veio até minha casa em Redondo Beach. Ele me disse que queria que eu ficasse em L.A. e lutasse com ele e terminássemos nossas carreiras juntos. Essas foram suas palavras. Eu disse a ele que eu estava em um ponto da minha vida em que eu precisava de uma mudança no meu coração. Eu precisava mudar de ares. Foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz, dizendo a ele, “Eu estou decidindo não jogar com você mais”.

Eu assinei com o Bulls porque eu queria me colocar em posição de ganhar outro título. Eu não consigo isso. Eu sinto muita falta dele. Eu sinto falta da presença dele. Eu sinto falta da atitude dele. Não são muitos os jogadores que tem isso.

O Cisne Branco (The White Swan), o Cisne Negro (The Black Swan), tudo isso, não me chateava. Não me frustrava. Mostrava que ele se importava comigo. Era um amor bravo. Ele estava me desafiando porque ele esperava mais de mim. É quando alguém se importa com você que ele te desafia. Quando não se importam com você, te ignoram. É aí que você precisa se preocupar.

Talvez eu seja mimado porque eu sei como é se sentir vitorioso, e eu amo demais esse sentimento. Muda meu humor. Mexe comigo. Eu acho que ganhar pode estender minha carreira e me motivar a fazer mais. Estar próximo do Kobe teve impacto na minha vida. Eu serei agente livre nesse verão e eu penso sobre isso agora. Eu quero aproveitar ao máximo os anos que me faltam. Eu quero ser parte de algo especial de novo.''