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Arquivo : drazen petrovic

Assistência Cultural – Once Brothers
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Gustavo Battaglia

O basquete está presente nas vidas de muita gente diferente ao redor do mundo. De garotos da periferia de Chicago, passando por atletas em plena guerra civil nos Balcãs, até as efervescentes ruas de Barcelona, o esporte testemunhou e foi protagonista de muita história boa. A “Assistência Cultural” é o jeito que a gente achou pra manter essas histórias vivas: documentários, livros, contos e causos estarão por aqui toda semana. Fique ligado e, claro, fique à vontade para nos enviar sua sugestão!

Drazen Petrovic e Vlade Divac sempre foram amigos. Eles cresceram juntos e compartilhavam uma paixão em comum: o basquetebol. Jogando pela seleção nacional da Iugoslávia, os dois levaram a equipe a um outro patamar no cenário mundial.

Na “Assistência Cultural” de hoje, falaremos de “Once Brothers” (2010), documentário produzido pela ESPN americana para contar a relação dessas duas lendas do basquete.

once brothers

Vlade Divac e Drazen Petrovic

Juntos, Drazen e Vlade levaram a Iugoslávia à medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Seul (1988) e ao ouro no Campeonato Mundial da Argentina, em 1990. Em 1989, depois de conquistarem a Europa e o mundo, era hora de tentar a sorte nos Estados Unidos.

Apesar de ter sido draftado no terceiro round do draft de 1986 pelo Portland Trail Blazers, Drazen permaneceu na sua terra natal e continuou jogando pelo Cibona até 1988, quando foi para o Real Madrid, onde disputou a melhor partida da sua vida, contra o Caserta, equipe de Oscar Schmidt, pela final da Recopa de 89.

1989 foi justamente o ano que Vlade Divac foi selecionado pelo Los Angeles Lakers, na 26ª posição do draft. Jogar no time mais vencedor da década, ao lado do então melhor jogador de todos os tempos, Magic Johnson, era uma oferta boa demais para ser recusada. Vlade iria para a NBA e, com o amigo indo, Petrovic decidiu que era hora dele ir também. Assim, os dois embarcaram para a terra do Tio Sam, onde – pouco tempo depois – se tornariam os primeiros estrangeiros a atingir a fama na NBA.

Divac e Petrovic, recém chegado aos EUA.

Dois anos depois, em 1991, com a queda da União Soviética, a Iugoslávia se dividiu. A guerra eclodiu entre a Croácia, de Drazen, e a Servia, de Divac e longas questões étnicas vieram à tona. Agora, estes dois homens, uma vez irmãos, estavam em lados opostos de uma guerra civil mortal.

Como se não bastasse, Divac se envolveu num incidente com um torcedor Croata. Foi aí que a amizade passou a ser insustentável. Petrovic e Divac continuaram a se enfrentar nas quadras de basquete da NBA, mas nenhuma palavra era trocada entre os dois.

Vlade Divac segurando a bandeira croata, durante o episódio que estremeceu a relação entre os dois.

Pouco tempo depois, na fatídica noite de 7 de junho de 1993, Drazen Petrovic faleceu em um acidente de carro e os dois nunca tiveram a chance de se reconciliar.

“Once Brothers” conta a emocionante história destes dois homens e como circunstâncias fora do nosso controle podem influenciar nossas vidas. Às vezes, de maneira irreversível.

Acho que contamos demais? De menos? Comente.

Quer assistir o doc inteiro? Prepara a pipoca e clique aqui.


Após derrota, Nikola Mirotić rasga bandeira Sérvia.
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André Cavalieri

Em 1991, nascia um Iugoslavo chamado Nikola Mirotić. O bebê nascia num momento complicadíssimo. No começo dos anos 90, a Iugoslávia passou por momentos de extrema tensão: boa parte das seis repúblicas que formavam o país entrariam em conflito nesse período. Em 1990, especificamente, o nacionalismo Croata nunca tinha sido maior. Os croatas tentaram se separar da Iugoslávia e o resultado foi uma guerra de quatro anos e aproximadamente vinte mil mortos. Muito sangue foi derramado na região dos Bálcãs.

Foi nesse contexto que a Iugoslávia ganhou o Mundial de Basquete de 1990. A criança – futura jogadora de basquete – não sabia, mas, naquele momento, um ano antes de seu nascimento, dois dos maiores jogadores de basquete da história de seu país, Vlade Divac e Dražen Petrović, deixavam de ser irmãos.

O que aconteceu foi que, durante a comemoração da equipe, um fã entrou na quadra segurando a bandeira Croata. Nem todos do time da Iugoslávia viram aquilo com bons olhos, mas foi Vlade Divac que não aceitou a intromissão. Ele foi até o torcedor e arrancou a bandeira de suas mãos. Esse gestou bastou: ao voltar para a Iugoslávia, Vlade Divac era o inimigo número um dos Croatas. Inclusive de Dražen Petrović. Com a morte de Petrović num trágico acidente de carro em 1993, os dois atletas nunca tiveram a chance de retomar a amizade. Essa história é contada em detalhes no excelente documentário “Once Brothers”, que vale ser visto.

Vinte e cinco anos depois, mais especificamente ontem, depois que a Espanha perdeu para a Itália num jogaço do Eurobasket (tá rolando!), o bebê Mirotić – agora já crescido e naturalizado espanhol – agarrou e rasgou a bandeira sérvia das mãos de um fã. Imediatamente depois, ele veio à público pedir profundas desculpas pelo acontecido. Mal sabe ele que, pedidos de desculpas ou não, um ato parecido foi emblemático para uma guerra que tirou a vida de dezenas de milhares de pessoas anos antes. Seja como for, pode ser que Dražen, da onde estiver, tenha tirado uma onda com Vlade Divac: dessa vez, a vítima foi a bandeira do amigo.


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