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Da irrelevância ao sucesso: o que Michael Jordan fez pela Nike.
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André Cavalieri

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Os caras da Nike haviam se reunido nos bosques de Oregon para uma reunião fora do escritório. Eles imaginavam que uma mudança de cenário poderia ser boa para eles enquanto traçavam um caminho caro e ousado no basquete profissional.

Phil Knight estava lá. Também estavam seu braço direito, Rob Strasser; o advogado Howard Shguser; o designer Peter Moore, entre alguns outros funcionários. Naquela época, nenhum deles sabia muito sobre o rapaz magro da Carolina do Norte chamado Michael Jordan. Eles certamente não poderiam imaginar o que ele um dia significaria para a Nike.

Tudo começou naquele dia de janeiro de 1984. Knight havia fundado a Nike no começo dos anos 1970 para produzir tênis de corrida. Até aquele momento, suas incursões no basquete profissional haviam sido mal sucedidas. Agora, a Nike queria tentar de novo. Em 1979, Knight havia se encontrado com John Paul “Sonny” Vaccaro, um expert em basquete que lançou uma ideia inovadora: a companhia iria assinar contratos de apoio com treinadores universitários que – em troca – poderiam transformar seus jogadores em meninos propaganda da marca.

No primeiro momento, ninguém sequer sabia se isto era legal, e muito menos se as Universidades permitiriam a iniciativa. Cinco anos depois, todavia, enquanto a equipe se reunia no interior de Oregon, a Nike já dominava boa parte do esporte universitário. De um dia pro outro, Vaccaro havia fechado acordos de Georgetown até a Universidade de Nevada.

“Eu fiquei encantado com Sonny,” Knight disse. “Depois daquilo, nós demos a ele todo o espaço que ele queria.” Com a iniciativa universitária tendo sido tão bem sucedida, Knight sabia que o dinheiro de verdade viria do basquete profissional, onde Larry Bird e Magic Johnson tinham disparado a popularidade da liga. Os dois jogadores, no entanto, usavam Converse.

Os homens naquela reunião estavam todos seguindo o velho método da Nike de pensar em soluções pouco ortodoxas. Com grande parte dos grandes jogadores da NBA já contratados pela Converse, os funcionários da Nike pensaram que eles deveriam apostar em um calouro, uma cara nova para a liga. Ainda mais ousado que isto, a Nike estava considerando criar um par de tênis exclusivos do jogador, e depois vender não só um calçado, mas um pacote inteiro de performance e personalidade.

O draft daquele ano tinha um bom número de escolhas promissoras. Akeem Olajuwon havia jogado em três Final Fours da NCAA e seria escolhido na primeira posição. Charles Barkley ostentava uma personalidade enorme. John Stockton era uma possível estrela branca. Algumas pessoas imaginaram se não seria melhor assinar contratos menores com todos eles, de forma a diminuir um pouco o risco desta empreitada do tênis-assinatura.

Então o braço direito de Knight, Rob Strasser olhou para Vaccaro – o homem cujos instintos compensavam sua falta de ensino formal – e perguntou a ele que jogador ele preferia. “O garoto da Carolina do Norte,” disse Vaccaro.

Michael Jordan e Sonny Vaccaro

Michael Jordan e Sonny Vaccaro

Jordan estava no radar de todos, mas será que Sonny tinha realmente certeza? Ele havia metido a bola do campeonato em 1982 para a Carolina do Norte, é verdade, mas ele nunca mais tinha aparecido num Final Four pelo resto de sua carreira universitária. E ele nem fazia tanto ponto assim – anos mais tarde, surgiu a brincadeira de que, por conta de seu estilo conservador, o técnico da Carolina do Norte, Dean Smith, era o único homem que conseguia segurar Jordan com menos de 20 pontos num jogo. E Jordan, era bom lembrar, seria somente a terceira escolha do draft. Não seria melhor apostar na primeira escolha?

Mais que isso, Jordan ainda não havia tido a chance de mostrar sua personalidade. O programa da Carolina do Norte mantinha seus jogadores sob sigilo. Ele não era nenhum Barkley. Ninguém conhecia Jordan direito. E a Carolina do Norte era uma universidade da Converse; a Nike não tinha nem como entrar lá. Até mesmo Vaccaro nunca havia conversado com Jordan, uma raridade, tendo em vista que ele havia conhecido quase todos os grandes jovens jogadores depois de organizar o “Dapper Dan Roundball Classic”, o primeiro jogo all-star nacional para garotos do ensino médio. Michael Jordan, que evoluiu seu jogo mais pro final do ensino médio, não havia sido convidado para este evento.

Havia ainda outras preocupações. Em 1984, não havia ainda muitos negros famosos nos Estados Unidos. Michael Jackson estava apenas começando sua ascensão ao estrelato. A ideia de ter um jovem negro vendendo tênis personalizados para a América branca era absurda. Quem dirá um jovem negro que ninguém sequer conhecia.

Então Rob Strasser inclinou-se e olhou severa e longamente para Vaccaro. “Sonny, se você tem tanta certeza sobre Michael Jordan, você estaria disposto a apostar seu trabalho nisto?” Vaccaro não hesitou. “Sim,” ele disse, sem mencionar que o salário que ele recebia da Nike não era grande coisa. A partir dali, a decisão estava feita.

Por que Vaccaro estava tão convencido sobre Jordan? Nem ele sabe dizer: “Eu apenas sabia que ele seria o cara.” Dois anos antes disso, Vaccaro havia visto Jordan enquanto ele calmamente metia a bola do campeonato nacional no último segundo. Aquele chute era notável não só porque Jordan o havia acertado, mas também porque Dean Smith havia confiado num calouro para arremessar aquela bola, deixando de lado seus bons veteranos, James Worthy e Sam Perkins.

O buzzer-beater de Michael que deu a North Carolina o título da NCAA de 1982.

Também havia o fato de que Jordan tinha um jogo que era sedutor para jovens atletas. As crianças sonhavam em ser alas que infiltravam e não pivôs. E ele também tinha aquele sorriso enorme enquanto jogava. Ele parecia um cara simpático.

De qualquer forma, Vaccaro estava certo. Anos mais tarde, aliás, ele foi o cara que colocou a Adidas no jogo quando apostou num jovem confiante chamado Kobe Bryant, e também quando fechou um contrato com uma escola católica de ensino médio de Ohio, que tinha um adolescente de 15 anos chamado LeBron James. Como se vê, Vaccaro não teve apenas um dia de sorte quando ele escolheu Jordan.

Vaccaro encontrou-se com Jordan seis meses após aquela reunião; eles almoçaram juntos depois de um treino para as Olimpíadas. Algumas semanas depois disso, Rob Strasser encontrou com o jovem em Beverly Hills. Finalmente, Jordan e seus pais viajaram para Oregon, onde Knight organizou uma pequena guerra entre empresas. Estavam lá Reebok, Adidas e Nike. Esta última finalmente fechou negócio: US$500 mil e um pedaço dos lucros para Michael Jordan.

No começo de 1985, um tênis foi desenhado. Ele era um pouco desajeitado e nada ortodoxo, com as cores preta e vermelho do Chicago Bulls de Jordan. Foi um sucesso quase imediato, impulsionado pelo estilo de jogo aéreo de Michael Jordan (ele e Dominique Wilkins haviam travado uma batalha memorável na competição de enterradas do All-Star Weekend). Naquele mesmo ano, o comissário da NBA, David Stern, deu à Nike puro ouro quando baniu os tênis da NBA por não obedecer aos esquemas de cor impostos pela liga. “Eu sabia que estávamos em algo enorme quando David Stern o proibiu de usar os sapatos,” disse Vaccaro.

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As vendas dispararam. Certo dia, Jack Joyce, então responsável pela produção da Nike, estava tão sobrecarregado por pedidos relacionados a Michael Jordan que jogou as mãos pra cima e gritou, “Vamos fazer tudo preto e vermelho e vender tudo!”

Foi mais ou menos isso mesmo que a Nike fez. A demanda crescia tão rapidamente que em um certo momento houve uma corrida pela oferta mundial de fio da cor vermelha. O crescimento nunca desacelerou. Em 1984, a receita total da Nike era de cerca de US$900 milhões. Em 1997, quando Jordan estava ganhando o quinto dos seus seis títulos, a receita havia batido US$9.19 bilhões.

As vendas do tênis de Michael continuam ainda hoje. 28 novos tênis do atleta foram feitos e Jordan é agora a sua própria marca dentro da Nike. O logotipo “Jumpman” e todos os comerciais dos quais ele participou são icônicos. A nação ter adotado uma campanha publicitária com um homem negro como protagonista ajudou a abrir incontáveis oportunidades corporativas para atletas e artistas negros.

“Ele é o garoto-propaganda mais influente que existirá,” afirma Vaccaro. E tudo começou com uma grande aposta no interior de Oregon.

airjodan

(Este texto foi traduzido e adaptado do texto original publicado pelo SevenSport, do Yahoo: What Michael Jordan Did for Nike.)


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