Kobe anuncia a aposentadoria II
Gustavo Battaglia
''Zero. Foi essa a quantidade de pontos que eu anotei durante o verão na liga de desenvolvimento do Sonny Hill, quando eu tinha 12 anos. Eu não pontuei. Nenhum lance livre, nenhuma bandeja acidental, nenhuma daquelas bolas que você joga pra cima e que caem sem querer.
Meu pai, Joe 'Jujuba' Bryant, e meu tio, John 'Gordinho' Cox eram lendas nesta liga de desenvolvimento. Eu havia envergonhado minha família!
Eu considerei desistir do basquete e me dedicar ao futebol. Foi nestemomento que meu respeito e minha admiração pelo Michael surgiram. Eu descobri que ele havia sido cortado do seu time do ensino médio quando ele era um calouro; eu descobri que ele sabia como era se sentir envergonhado, se sentir um fracasso. Mas ele usou essas emoções para alimentá-lo, para fazê-lo mais forte. Ele não desistiu. Então eu decidi que eu iria encarar o desafio da mesma maneira que ele fez. Eu iria usar o meu fracasso para me motivar. Eu me tornei obcecado em provar para minha família – e, mais importante, para mim mesmo – que eu CONSEGUIRIA.
Eu aprendi tudo sobre o jogo: a história, os jogadores, os fundamentos. Eu não estava só determinado a nunca mais ter zero pontos, eu queria ser o responsável por fazer com que meus adversários sentissem o mesmo sentimento de fracasso que eu um dia senti. Meu instinto assassino de pontuar havia nascido.
Vinte e quatro anos depois, eu ultrapassei o cara que me inspirou.
Que jornada! Esta marca é uma honra enorme. Eu estou ciente das regras do Tempo-Pai. Ele já me mandou ir escovar os dentes antes de me botar pra dormir, mas eu não seria eu mesmo se eu não demorasse pra obedecer. Eu não seria eu mesmo se eu não escovasse cada um dos dentes duas vezes, escovasse minha língua três vezes, passasse o fio dental até que minhas gengivas sangrassem, e enxaguasse minha boca até que ela ficasse dormente.
Eu não seria a criança que se levantou depois do zero, e eu não estaria honrando o homem que me inspirou a desafiar tudo. Muito obrigado a todos vocês pelo amor e pelo apoio. Eu aprecio muito tudo isso, mesmo se o vilão que mora dentro de mim se recuse a admitir isso o tempo todo.
Muito amor, câmbio, desligo,
Mamba.'' (Kobe Bryant para a The Players' Tribune)
Originalmente, este texto foi ao ar nos dias seguintes ao Kobe ter passado Michael Jordan no ranking de maiores cestinhas da história da NBA. Bryant é o terceiro, atrás de Karl Malone e Kareem Abdul-Jabbar.
Ontem, o Kobe anunciou sua aposentadoria ao fim desta temporada. Hoje, o dia será todo dedicado a ele. Incluindo o nosso programa de rádio semanal, o Estação Basquete, de daqui a pouco. Entramos no ar, ao vivo, às 21h.