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Como um cara tão bom quanto Oscar Schmidt nunca foi para a NBA?

André Cavalieri

Durante uns 20 anos, Oscar foi o cara do basquete brasileiro. Aquela vitória no Pan-Americano de 1987 traumatizou muito gringo e projetou o brasileiro dentro do basquete norte-americano. É natural que o camisa 14 sempre tenha que responder a mais óbvia das questões: como um cara tão bom não foi jogar na NBA? A resposta está aqui.

Tem gente que não sabe, mas Oscar foi draftado pelo New Jersey Nets ainda em 1984. Claro que ele não aparaceu de paletó nem colocou bonézinho do time. Ele foi a escolha 131, no sexto round, e provavelmente nem ficou sabendo que havia sido draftado. Vale lembrar que Michael Jordan foi escolhido pelo Chicago Bulls neste mesmo draft, bem como, pasmem, a lenda do atletismo Carl Lewis, o que só acrescenta mais bizarrice nessa história toda. 

Mas bem, voltemos à nossa última glória, o Pan Americano de 1987. A atuação de Oscar deslumbrou muitos jornalistas, que trataram de pedir aos times da NBA de suas cidades que corressem atrás do Mão Santa pra assinar um contrato. Em 1988, por exemplo, um novo time surgia na NBA, um tal Miami Heat. Um jornalista esportivo do Sun Sentinel, jornal tradicional da região, escreveu um artigo em 1987 pedindo para Oscar ser o “expansion player” do Heat: “Tragam o Oscar para Miami. Deixem que ele seja a primeira chama do nosso fogo. Enquanto este pobre time de expansão tenta a sorte, deixem o Oscar tentar a dele. Ele seria algo que valeria ver.” 

Como sabemos, o negócio não vingou.

“O contrato não foi assinado por algumas boas razões. Jogando profissionalmente na Itália e no Brasil, Oscar ganha aproximadamente 300mil dólares. Os Nets ofereceram a ele 75mil num contrato não-garantido. Aparentemente Schmidt também queria uma cláusula no contrato garantindo que ele jogaria pelo menos 40 minutos por jogo.”

Além dessas questões, outro fator pesava contra o maior cestinha das Olimpíadas: Oscar Schmidt e defesa não podem ser escritos na mesma frase. Em um artigo no LA Times publicado também em 1987, um olheiro da NBA chamado Marty Blake teceu um comentário que dá uma ideia da distância entre o basquete praticado por Oscar e o praticado pelos gringos:

“Ele não consegue jogar na nossa liga, não há dúvida. Ele é um exímio chutador, mas ele não defende ninguém. Nesse momento, ele está mais perto de você, leitor, do que ele esteve de qualquer outro jogador na quadra. Ele quer um contrato que garanta 40 minutos por jogo! Então ele converteria 33 pontos e o cara que ele estiver defendendo, 63…”

Pelo visto, Oscar tinha bem claro na sua cabeça que jogar nos EUA não valia a pena, como ele mesmo disse ao jornal da Califórnia: “Você precisa ser uma estrela. Se você não é uma estrela, eles se cansam de você, e o mandam para uma outra parte do país. Daí você tem que se mudar com sua esposa e filhos.”

Além de 1) a grana bem abaixo do que ele ganhava na Europa, 2) do seu estilo de basquete (eu ataco, vocês defendem) que não agradava aos gringos, e 3) da possibilidade de ficar mudando de cidade a cada seis meses feito um Leandrinho, ainda pesava contra a NBA aquela incoerência de ser tida como liga profissional e, portanto, seus atletas serem proibidos em competições amadoras como os Jogos Olímpicos. Fosse para os EUA, Oscar, alucinadamente patriótico como só ele, não poderia jogar pela seleção.

Ele então caminhou pelos jardins da Quinta da Boa Vista, aquele mesmo lugar que um dia abrigara a família imperial Brasileira, e tirou os sapatos. Sentiu sob os seus pés a mesma grama na qual D. Pedro I um dia pisara, seus olhos marejaram e ele gritou: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, digam ao povo que fico!” E ficou.